sábado, 18 de agosto de 2007

Florbela Espanca, um poema

Silêncio!...

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti, e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, meu Amor!... Abre! Sou eu!...

Um comentário:

Nanine disse...

Fabiana,

Você precisa conhecer uma poeta muito boa com a qual tive contato no Mestrado, seu nome é Leila Míccolis. Ela é, digamos, intrigante. Tenho certeza de que você vai gostar. Veja esse poema:

"Geração inde(x)pendente"
Foi aí que eu comecei a fazer versos/e mendigareditores,/como se eles fizessem grandes favores/ em nos publicar.../Mas de tanto batalhar virei poeta/ - um grande passo em minha meta/porque em poetisa todo mundo pisa./E quando me consideraram menina prodígio,/consegui que um crítico de prestígio/ analisasse minha papelada./Ele deu uma boa folheada,/pensou, pesou e sentenciou:/ -É incrível.../não tem nível.../Juro que fiquei com muita mágoa,/porque, afinal, quem precisa de nível/ é caixa d'água...

Esse também é muito bom:

"Referencial"
Solteira de aceso facho/precisa logo de macho;/se é nervosinha a casada/só pode ser mal tansada;/viúva cheia de enfado/tem saudade do finado;/puta metida a valente/ quer cafetão que a esquente./Mulher não vive sem homem./A prova mais certa disto/é que até as castas freiras/saão as esposas... de Cristo./Tal regra é tão extremista/que não contém exceção:/quem sai dela é feminista,/fria, velha ou sapatão.

É uma poeta marginal da geração de 60.

Um abraço, Nanine