terça-feira, 21 de agosto de 2007

Thiago de Mello, um poema

Água de Remanso*

Cismo o sereno silêncio:
sou: estou humanamente
em paz comigo: ternura.

Paz que dói, de tanta.
Mas orvalho. Em seu bojo
estou e vou, como sou.

Ternura: maneira funda.
cristaliana do meu ser.
Água de remanso, mansa
brisa, luz de amanhecer.

Nunca é mágoa mordendo.
Jamais a turva esquivança,
o apego ao cinzento, ao úmido,
a concha que aquece na alma
uma brasa de malogro.

É ter o gosto da vida,
amar o festivo e o claro,
é achar doçura nos lances
mais triviais de cada dia.

Pode também ser tristeza:
tranqüilo na solidão macia.
Apaziguado comigo,
meu ser me sabe: e me finca
no fulcro vivo da vida.


Sou: estou e canto.

¨¨¨¨¨
Quando leio Thiago de Mello são tantos os sentimentos que me tomam que as palavras me somem.

Ainda na adolescência, tive contato com a sua escrita e me apaixonei. Reconheço que uma significativa parte de quem eu sou hoje foi acrescentada via Thiago de Mello. Obrigada, poeta!


*Mello, Thiago. Faz Escuro Mas ainda Canto. 1985. Civilização Brasileira. 10ª edição.

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